Exploração da Mongólia por Pedro C.

Olá,

Claramente foi e será uma das grandes viagens da minha vida.
Um país vasto e variado, com gentes, culturas e paisagens tão diferentes da nossa,

Houve vários episódios que marcaram esta viagem.
Mas, uns dos que mais impressionou, mais marcou e que tem o selo Mongólia, foi ouvir o canto gutural ou difónico. É um canto irreal e surreal, quase inumano. É aquela situação clássica que ao fim de poucos minutos de se ter vivido essa experiência nos questionamos se a vivemos ou não. É como se fosse necessário uma confirmação posterior para nos assegurarmos que efectivamente ela aconteceu.

Quanto ao Filipe, foi um factor essencial e que muito contribuiu para o sucesso da viagem.
Como responsável pelo grupo, soube lidar muito bem com as personalidades diversas do grupo em momentos complicados e difíceis de gerir. Sempre pôs o bem estar do grupo como uma das suas primeiras preocupações. É uma pessoa divertida, comunicativa e de trato muito fácil.
Um excelente companheiro de viagem e um grande líder Nomad.

um abraço
Pedro C.

Safari na Terra dos Masai por Paula

Ola
A minha opinião e a da minha irmã sobre esta maravilhosa viagem é que correspodeu bastante ás nossas expectativas
Não é à toa que quem viaja por África se sente fascinado e nunca + esquece... Agora tambem sabemos o que isso significa...

Cumprimentos
Paula

Deserto e Costa Atlântica (com Gonçalo Cadilhe)

Olá,

De volta a Portugal, feliz e contente do que por lá vivi, aqui estou a dar notícias. A minha aventura em África foi maravilhosa! Nada é impossível quando a força de vontade é grande... e uma sexagenária fazer uma viagem daquelas é obra... Começar e terminar com horas intermináveis de voo e várias ligações...e meter pelo meio um "ritmo de papa quilómetros" em estradas de terra batida e caminhadas à velocidade da luz..., não se pode dizer que seja fácil! Mas, adorei a experiência e estou disponível para outra ....Agradeço à Nomad ter proporcionado que tal fosse possível e ter convidado o Gonçalo para Lider da viagem.

Até breve,
Mená

Pelos Prados do Gerês

É um fim de tarde perfeito! Merecido, depois da tarde de frio e nevoeiro, das horas a caminhar. Mas, esta visão arrebatadora recompensa todo o esforço. Um vale prolonga-se à minha frente, coberto por um bosque multicolor de cores quentes, tão quentes quanto os raios de sol que agora me aquecem. A luz fugaz relembra-me de que ainda tenho uma longa descida pela frente. Lá ao fundo, a pequena coluna de fumo anuncia que alguém já acendeu a lareira por mim. Vou ficar apenas mais uns minutos…
No norte do país, a apenas 1h30 de carro do Porto, encontramos o único Parque Nacional existente em Portugal. Um local privilegiado de protecção de uma fauna e flora sem igual.
Com percursos que nos levam a percorrer trilhos de pastores serra acima, seguir o rasto de cavalos selvagens. Até chegarmos aos locais mais escondidos e intocados, contemplando vales profundos, cobertos de bosques e florestas de cores vivas.
Se tem curiosidade em visitar este magnífico parque, ou deseja abandonar o normal roteiro turístico, encontra aqui os ingredientes necessários para um excelente fim-de-semana. Explorando alguns dos recantos mais belos, menos povoados e no entanto acessíveis, da serra do Gerês.

Mata da Albergaria
Devido à sua facilidade de acesso e por ser um dos poucos locais do parque onde ainda é possível contemplar a floresta primitiva. A Mata da Albergaria tornou-se num dos seus cartões de visita. Mesmo com as actuais restrições à circulação automóvel, durante os meses de verão, é normal encontrar um excessivo tráfego nesta modesta estrada de terra batida.
No entanto, na Primavera e Outono, a calma volta a estas paragens. Convidando a um descontraído passeio de bicicleta.
Saindo de S. João do Campo, seguimos a estrada de alcatrão em direcção ao parque de campismo. Uma vez aqui chegados continuamos até ao cruzamento, onde nos deparamos com três opções: seguir a estrada de alcatrão em direcção a Brufe (esquerda), seguir a pé pela geira romana (em frente), ou continuar de bicicleta pela estrada de terra batida (à direita). Neste momento, a que nos interessa é exactamente a última opção.
Daqui o panorama da serra Amarela é soberbo, com a albufeira do rio Homem a estender-se ao longo do vale. Ao longe conseguimos observar o jazigo da aldeia de Vilarinho das Furnas, submersa aquando da construção da barragem no rio Homem. Nos meses de verão consegue-se deambular pelas ruínas das casas, caminhar pelos socalcos. Não deixe de visitar o museu com o mesmo nome, que se situa à entrada da aldeia de S. João do Campo. Construído parcialmente com as pedras das casas da antiga aldeia, onde se encontra um pouco do quotidiano da desaparecida aldeia, assim como gravuras e fotografias.
Seguimos o nosso passeio de bicicleta rodeados por fragas de granito, que se elevam como agulhas apontadas ao céu. O bosque emerge, reconfortante, de um encanto delicado. Carvalhos cobertos de musgo, esquilos que correm pelos ramos e ao longe o murmúrio dos ribeiros. Lá no alto a silhueta de uma ave de rapina, que observa o solo em busca de alimento.
Abandonamos o caminho principal, percorrendo um estreito trilho, aqui a bicicleta torna-se ainda mais divertida. Chegamos à ponte de madeira, onde nos deparamos com um lago de águas transparentes, alimentado por uma cascata. O local ideal para uma pausa e um pic-nic.
O regresso efectua-se pelo mesmo caminho, mas agora é maioritariamente a descer, por isso aventure-se! Largue os travões e acelere estrada abaixo, mas nunca se esqueça, pode sempre encontrar um carro pela frente…

De volta ao cruzamento inicial, se ainda tiver energia, percorra o pequeno troço da geira romana a pé. Um pequeno trilho que segue junto ao rio. Se no entanto o que procura é exactamente recuperar energias, regresse à aldeia de São João do Campo, lá encontra inúmeras tascas regionais, onde pode saborear um bom petisco. Vá até à Tasca dos Anjos, um pouco acima da aldeia, e peça um chouriço assado… divinal!

Prados da Messe, Conho e Mourô
A névoa invade os campos de cultivo e um ténue manto de neve cobre a paisagem. Olho pela janela, hipnotizado pela beleza deste local. No ar paira o rumor do sino que convoca a aldeia para a missa dominical, ritual ainda sagrado nesta região.
Começamos a caminhar, subindo lentamente a encosta da serra. O percurso de hoje irá revelar-nos profundos vales, prados, refúgios de pastores, falésias graníticas e, com alguma sorte, cavalos selvagens. Somos invadidos por um sentimento de isolamento. O silêncio apenas é quebrado pelo barulho da nossa respiração, ou pelo som da neve a estalar sob o peso das nossas botas.
Percorremos um trilho de pastores e em cada prado encontrar-mos um dos seus abrigos, usados para guardar alguma comida e utensílios, ou por vezes, como resguardo para uma ou outra noite aqui passada. Abrigos modestos e pequenos, a horas a pé de qualquer estrada ou aldeia. Os pastores são os guardiães da serra, mestres na sua lide. Palmilham os seus caminhos de lés-a-lés, sem equipamento ou cartas topográficas, tendo por companhia apenas o seu rebanho. Um pouco por todo o mundo foram eles os primeiros montanheiros e alpinistas. Famosos pela sua coragem e destreza na montanha.
Chegados ao planalto, o nevoeiro oculta qualquer referência, o trilho desaparece. O manto branco da neve confunde a navegação. Ao longe distinguimos uma mariola, estes amontoados de pedra usado por pastores é sinal de que estamos na direcção certa. Os longos vales de paredes verticais, que emergem acentuam ainda mais o aspecto montanhês da paisagem.
Passadas poucas horas, o nevoeiro desaparece e somos reanimados pelo calor do sol. Sentimos uma imensa felicidade por ainda poder usufruir de locais como este. Aqui percebemos que fazemos parte de um mundo natural. A nossa vida torna-se mais forte, os sentidos mais despertos. É nestes locais que nos evadimos, do nosso universo, da nossa rotina.
É um fim de tarde perfeito! Daqui avisto toda a mata da Albergaria, as encostas da serra Amarela e o espelho de água dourado do rio Homem, completa a paisagem. O sol vai desaparecendo no horizonte, isso não importa agora, em breve estarei de volta ao conforto. Ao longe avisto a casa onde iremos passar a noite, com fumo que se eleva da sua chaminé. Quase sinto o cheio a lenha queimada no ar, o calor da lareira na face.

Tiago Costa
Guia Nomad do programa "Prados do Gerês"
artigo publicado na edição nr 1 da revista Visão - Vida & Viagens

Namíbia por Gonçalo Cadilhe

O lado oculto da Lua? É fácil de avistá-lo: é aqui, na Terra. Mais exactamente a uns dez minutos de Swakopmund, à direita na estrada que sai da cidade. Não é preciso explicar mais nada: só há uma estrada que sai de Swakopmund. Passada uma dúzia de quilómetros de ter inicio a viagem, é só olhar à direita: está ali, a lua. Aquela que nunca tínhamos conseguido ver quando olhávamos para o céu.

Esquecia-me de apontar uma última coisa sobre esta face oculta da lua: a localização de Swakopmund. É uma cidade da Namíbia. Aliás, é a outra cidade da Namíbia. Só há duas, dignas dessa classificação: Windhoek, a capital. E Swakopmund, a outra cidade. O resto da Namíbia é um desolado vazio imenso onde, de tantas em tantas centenas de quilómetros, aparece um tímido aglomerado urbano.

Pensando melhor, nem são precisas tantas indicações para chegar à face oculta da Lua. Basta dizer: Namíbia. Tudo neste país infinito parece estar já fora da Terra: um país lunar. Desertos que estão entre os mais áridos do planeta; desfiladeiros terríveis que se abrem só a quem está disposto a desaparecer da civilização por uns dias; correntes oceânicas que tornam inviável qualquer forma de vida que não seja sub-antártica; o maior meteorito do mundo ali caído por acaso, ou talvez não; temperaturas que queimam de dia, gelam de noite; e um vazio de pontos de referência na paisagem estonteante. Os topónimos sublinham esta qualidade etérea, inquietante da Namíbia: Costa dos Esqueletos; Montanha Queimada, oásis Solitário, Fonte Incerta, Água Má, Colina do Sangue, Floresta Petrificada. Ou seja, Skeleton Coast, Burnt Mountain, Solitaire; Twyfelfountain, Uis, Bloedkoppie, Petrified Forest.

Estão todos lá, espalhados por qualquer mapa ou guia. Às vezes ponho-me a olhar para estes mapas e guias e divirto-me a procurar nomes estranhos, ou factos curiosos, ou percursos possíveis. Divirto-me? Enfim, não é um divertimento, é um planeamento. Encontro algo que me interesse, um topónimo, um marco paisagístico, uma história de vida, e digo: “bom, a próxima vez que for à Namíbia…”. É um país que conheço bem e que não me canso de querer conhecer melhor. Também, porque a Namíbia está cada vez melhor. Passaram quinze anos desde a minha primeira viagem a este país relegado para o sul do mundo, e cada vez é mais “fácil” e “conveniente” visitar a Namíbia. Parecem palavras estranhas para uma nação de paisagens áridas, aldeias dispersas, animais selvagens, infra-estruturas reduzidas. Mas creio que é esse o segredo do enorme sucesso turístico que este país conheceu ao longo dos anos noventa: o governo investiu na modernização das infra-estruturas, no respeito pelo meio ambiente, no bom estado das (poucas) estradas nacionais e sobretudo apostou numa oferta turística sustentável e ecológica.

Não é por isso um paradoxo que a Namíbia seja ao mesmo tempo fácil e selvagem, moderna e primordial, conveniente e inacessível. Um dos exemplos que melhor ilustram este paradoxo é o circuito dos camiões overland, ou seja, de enormes viaturas que num passado longínquo foram usadas sabe-se lá para quê — talvez no transporte de pilares para um viadutos, ou de pés de galo de cimento para um quebra-mar, ou de vigas de carris para linhas ferroviárias — e que agora conhecem uma nova vida a transportar mochileiros em excursões nos limites da civilização. Estes camiões apetrecham-se de tudo o que é indispensável para a vida humana — água, comida, tendas, lenha, combustível — e enfiam-se com os seus passageiros durante uns dias nesse vazio absoluto que é o território da Namíbia.

Integrado numa destas excursões, tive a possibilidade de conhecer alguns dos lugares mais inóspitos e bonitos do planeta. Viajávamos pelo planalto desértico fora como se fosse o quintal de casa, com um sentimento de prepotência e confiança como se tivéssemos sido criados naquele ambiente. Claro que esse sentimento não nos pertencia, era-nos transmitido pela desenvoltura com que o motorista do camião overland atravessava leitos de rios secos há décadas, e contornava calhaus do tamanho de estádios de futebol e descobria com a precisão de um satélite clareiras sem inclinação para montarmos as tendas e passarmos a noite.

O motorista era uma mulher, uma mulher de armas que se chamava Maya e que me lembrava uma personagem feminina de uma história do Lucky Luke que, também ela, mascava tabaco, jogava póker e dizia palavrões, e tal como a Maya era oriunda de um deserto, neste caso o do Arizona. A diferença entre as duas mulheres era simples: a Maya existia mesmo.

Não havia nada homossexual ou sequer anti-feminino na Maya. Não era uma valquíria nem uma amazona. Simplesmente, pertencia ao planalto desértico da Namíbia, tinha crescido num dos ecossistemas mais duros e áridos e desmesurados do planeta, todos os dias assistia ao por-do-sol mais bonito da minha vida, e dormia debaixo das únicas estrelas que eu jamais vi que parecessem ter cor. Era, portanto, natural para a Maya ficar indiferente a estas coisas e estar mais interessada numa partida de póker. E quem não sabe conduzir por todos os terrenos, na Namíbia tem pouco por onde conduzir. Por tudo isto, o que a mim me parecia um comportamento, uma atitude existencial digna de um livro de banda desenhada; para a Maya era o dia quotidiano. A sua feminilidade traduzia-se simplesmente por ser mulher na Namíbia.
Recordo particularmente comovido um lugar onde a Maya nos conduziu uma noite. Acampámos no sopé dos montes Naukluft e mais uma vez eu tinha a sensação de ter chegado ao limite do mundo. Sabia que não, tinha a consciência que todos os meses a Maya devia trazer um grupo de mochileiros aqui, e também outros “tours” de camiões overland deviam usar a zona para pernoitar. Mas essa consciência não afectou a minha capacidade de me abismar com a “excentricidade” do lugar: “excentricidade”, aqui, é no sentido de estar fora do centro, precisamente na periferia do mundo. No seu fim.

Nessa noite, afastei-me lentamente das tendas, caminhei na direcção de um enorme maciço monolítico, desses que têm a dimensão de um estádio de futebol, e pus-me calmamente a subir pela crina. Não levava lanterna, não era preciso. Era uma noite luminosa, transparente. São sempre assim, as noites da Namíbia: estamos num planalto a mais de mil metros de atitude, num deserto, numa região sem smog luminoso. Creio que são as noites mais claras do mundo.
Não queria chegar ao topo de coisa nenhuma, só desejava caminhar um pouco pela noite sem lanterna, e depois olhar para as estrelas. Fiquei ali em silêncio sentado, esparramado na crina do monólito, a olhar para as estrelas. Como se este fosse o momento mais intenso e irrepetível da minha vida, como se tivesse que absorver cada segundo com toda a concentração do mundo para que nunca mais o esquecesse. Olhei para as tendas. A noite era tão clara que conseguia observar o acampamento como se estivesse dentro dele.

Sorri. Entre outras coisas, lá estava a Maya, a fumar um cigarro, a limpar qualquer coisa no motor do camião, talvez a dizer um qualquer palavrão, completamente desinteressada das estrelas, apenas mais uma noite de trabalho no quotidiano dos dias da Namíbia.

Da Patagónia à Terra do Fogo

Conforme prometido, e depois de alguns dias de recuperação, aquí estou eu a dar as minhas impressões de viagem. Devo dizer-lhe, como já antes o fiz pelo telefone, que a Viagem foi um exito e deixou-nos uma marca muito forte! Buenos Aires possui aquela que é uma das mais extraordinárias formas de expressão musical e dançada do mundo : O TANGO! O jantar/ show por vós organizado constituiu o 1º Spot da Viagem e deixou-nos de muito bem com a Argentina...
Não vou ser exaustivo na minha impressão de viagem. Eu já disse que ela nos " encheu as medidas". Para finalizar, e porque é de elementar justiça, uma referência ao Guia Xavier que nos acompanhou desde Calafate até Ushuaia. Rapaz de 22 anos bastante culto, falando fluentemente inglês e françês e com uma disponibilidade total para ajudar a resolver os problemas e para ficar para traz para auxiliar um ou outro caminheiro nas agruras das subidas ou das descidas.

Maria João

Navegação na Patagónia

Para finalizar queria só fazer uma referência ao Cruzeiro Magnífico que fizemos pelos fiordes chilenos da Terra do Fogo. Companhia de Navegação de grande classe, muita organização, muita segurança, muita vontade de mostrar aos clientes locais exóticos e inóspitos e acima de tudo um final muito repousante e excitante pela sensação de estarmos a ver coisas muito longe de casa que só conhecíamos dos compêndios de História e Geografia.

Cumprimentos e um até sempre dos
António Rui e Maria Cristina

No topo do Alto Atlas

Acordo sobressaltado! O barulho estridente de um alarme ecoa por toda a camarata; o ruído inconveniente que teima em não parar impede-me de me voltar para o lado e adormecer. Olho para o relógio, são 6h. Está na hora de me preparar para partir em direcção ao cume.

Saio do refúgio ainda meio ensonado, talvez não tenha sido boa ideia ficar até às tantas a jogar às cartas com o Mustapha… Ele guarda o refúgio quase todo o ano, trocando ocasionalmente com os irmãos, para que assim possa ir a “casa” em Imlil. O céu está estrelado e não há vento, estou com sorte! Na montanha a meteorologia dita todas as regras; bom tempo equivale a boas hipóteses de cume. Mau tempo significa que provavelmente não chegamos lá, ou que nos metemos em sarilhos.

Ligo a lanterna, coloco cuidadosamente os crampons nas botas. Certifico-me que tenho tudo o que preciso na mochila. O sono e o frio aliado à ansiedade de subir, por vezes levam-me a descuidos; e o casaco de penas que carrego na mochila pode ser decisivo, especialmente quando estou em alta montanha no pico do Inverno.

Abandono o refúgio seguindo um trilho marcado na neve, rasto de outras pessoas que por aqui já passaram. Hoje não há muita gente a subir, apenas vejo lá à frente a luz das lanternas das duas norueguesas e a do seu guia marroquino.

Caminho vagarosamente, mantendo o passo constante, habituando o corpo à altitude. A minha respiração ofegante relembra-me que tenho de voltar às minhas corridas matinais.
Grande parte da ascensão é feita pela face norte, o lado escuro e frio da montanha. O que em certa medida é bom, pois mantêm a neve rija; sendo mais fácil de caminhar, já que assim não nos enterramos a cada passo. Mas nas secções mais empinadas, torna a subida também mais perigosa. Já que em caso de queda, ganhamos velocidade com mais rapidez (como eu viria a verificar na descida…).

A neve crepita a cada passada. Caminho num estado de transe, concentrando-me no trilho iluminado pelo halo da minha lanterna. A montanha sempre teve este efeito em mim, desligar-me do mundo. Neste momento tudo o que interessa é subir, nada mais importa. Estar aqui é esquecer tudo para além destas paredes, um prazer constante. Pelo isolamento – o que hoje em dia, é cada vez mais difícil. Pela conquista de um objectivo obvio.

Muitos se interrogam sobre o propósito de escalar, subir montanhas. Porquê desgastar o corpo, por vezes arriscar, sofrer. Para uns meros minutos num cume? Só que o cume nunca é o objectivo, apenas uma desculpa. O objectivo está na rota escolhida, no estilo adoptado. Existem muitas frases eloquentes para descrever este “desporto”, mas a explicação é simples. As montanhas são uma paixão arrebatadora, tão racional como qualquer outra paixão. Um local quase religioso. Aqui em cima tudo se torna mais claro, límpido e simples. Toda a responsabilidade, todas as hipóteses de sucesso, tudo depende apenas de nós. Da nossa força de vontade, da nossa preparação, da nossa motivação. (in)Felizmente estou numa via de ascensão fácil, que com esta meteorologia magnífica, não apresenta nenhuma dificuldade. Hoje a minha peregrinação é mais branda…

Chego ao topo da encosta norte, tenho o cume ao alcance da vista! O sol que acabou de nascer ilumina tudo à volta, aquecendo-me. Daqui consigo observar todo o esplendor do Alto Atlas; as íngremes encostas cobertas de neve, as agulhas de rocha, os lagos gélidos.

O vento começa a soprar com força e a subida adivinha-se ainda mais íngreme. Como se num último esforço a montanha estivesse a proteger o seu cume de saqueadores. Estou meio enjoado, subi depressa demais desde Imlil, ou então, tenho mesmo de voltar a correr... Seja como for, o cume está mesmo ali, já não falta muito. Resta apenas superar um último passo traiçoeiro e caminhar cerca de meia hora para lá chegar.

Finalmente estou na conhecida pirâmide de ferro que marca o topo do Atlas! Celebro com as norueguesas e o com Hassan, o seu guia marroquino. Em redor destas muralhas, uma planície infinita alonga-se até ao horizonte. Nos vales escavados a sul, avisto uma pequena aldeia, reconheço-a da minha última visita ao Atlas. Foi ali que abandonei a minha primeira tentativa de chegar a este cume. Dessa vez, o plano era cruzar a montanha de Sul para Norte. Lá partimos de Ceuta – em cima de uma bicicleta – em direcção ao deserto para depois subir o vale do Draa até ao Atlas. Quando chegamos aquela aldeia sentimos na pele a inclemência da montanha. Uma chuva torrencial, com granizo, aliada aos mais de 1500 km de bicicleta deitou por terra as nossas ambições. Dois anos depois cá estou no topo, a contemplar o silvo do vento, valeu a pena a espera…
Sou acordado por Hassan que se despede de mim, vão descer de volta ao refúgio. Querem lá chegar a tempo de almoçar e voltar ainda hoje para Imlil, esse é também o meu plano. Observo-os a percorrer o caminho de regresso, o mesmo que me levará de volta ao conforto da casa de Mohamed. Imagino o sabor do tajine que estará à minha espera, o calor de um banho quente. Mas… E aquele cume ali ao lado… Não parece ser muito longe… Será que dali tenho uma vista ainda melhor do Atlas?!

Tiago Costa (líder Nomad)

Na Rota do Lobo Ibérico

Parabéns, mais uma vez, e votos de sucesso como prémio pela Vossa dedicação. De facto, o fim-de-semana foi mesmo muito bom da Vossa parte.
Um abraço.
Luís V.

Fotoadrenalina nos Picos de Europa

Gostei muito a experiencia e com certeza que irei repetir, mas para um destino diferente. Marrocos já está debaixo de olho...

Madalena B.

Prados do Gerês

Fica um testemunho pessoal de satisfação redobrada pelas condições propostas para o passeio e pela sua concretização perante as minhas expectativas. Talvez no futuro o Gerês possa merecer mais tempo de estadia e exploração, com o reforço dos laços pessoais que os nossos dois dias já prenunciaram.

Um abraço,
Luís V.

Santuário e Campo Base dos Annapurnas

Não tenho medo de confessar que estava entupida de receios sobre esta viagem ao santuário dos Anapurnas. Não conseguia parar de fazer um bicho de sete cabeças acerca dos pormenores desta aventura. Nunca tinha feito um trekking, não sabia como reagiria à altitude, ao cansaço, aos horários demasiado madrugadores para quem está a gozar férias, como me adaptaria à alimentação e às precárias condições de higiene, isto para citar apenas alguns dos meus receios. Isto foi o meu princípio: receios.

Partimos no dia 5 de Outubro rumo ao Nepal, com uma paragem na Índia, em Nova Deli, onde ficámos uma noite e sentimos o primeiro ar do “exotismo” oriental. Primeira impressão: caos. Que se esqueçam as regras de trânsito mais elementares. Que se abandonem os pruridos em sujar a via pública. Que se ignorem princípios básicos de segurança: sim, as pessoas (e os animais!) podem viajar no topo dos autocarros. Segunda impressão: cores. As cores que enfeitavam os camiões que passavam por nós na estrada, as cores dos saris das mulheres hindus, as cores dos mais variados artigos que são vendidos pelas ruas, desde tecidos, frutas, bijutarias, a brinquedos, tudo!

Depois deste baptismo rápido de oriente, sentia-me mais preparada para enfrentar a bizarria que habitava a minha Kathmandu imaginária e, por arrasto, todo o Nepal.
Resultou. A passagem por Nova Deli funcionou como uma vacina a tudo o que de mais estranho desfilasse pelos meus olhos à chegada a Kathmandu.

Fomos recebidos com grinaldas de flores e muita simpatia. Ficámos instalados na zona turística da cidade, Thamel, que é um viveiro daquilo que designei por “turismo freak”, e onde vibrei com a profusão de cheiros, sons, mais e mais cores, tudo distribuído pelo oportuno comércio de souvenirs, restaurantes, vendedores ambulantes, trânsito complicado de veículos motorizados e riquechaws. Um tour pela cidade no dia seguinte levou-nos a conhecer as suas principais atracções, um pouco da sua história, cultura e tradições. Até aqui, nenhum dos meus receios tinha sido colocado de forma séria à prova. Que venha o trekking! E veio.

Mais um dia e chegámos a Pokkara. Linda. Encaixada num cenário fantástico de montanhas sagradas, a sua beleza fica redobrada quando as águas do lago Fedi(?) reflectem o perfil dos Anapurnas. Todas as condições de alojamento continuavam ao melhor nível, com a variante favorável de agora tudo parecer mais convidativo, graças à atmosfera bem descontraída desta cidade. Sentia-me cada vez mais encorajada a começar o meu trekking. Tudo no mais perfeito timming.

E agora era a valer. Seis trekkers, 1 guia e 3 carregadores. Estava formada a equipa para esta aventura (ou talvez ainda não). Início: Fédi. Objectivo: Tolka. 1ª paragem: Potanna. E lá fomos nós. Nada como começar com uma subida de alguns milhares de degraus (a sério!: o Zé contou-os). Nada mau porque, quando finalmente acabámos de subir, não me senti tão cansada como pensei que poderia ficar. Um indício do fim dos meus receios e uma primeira vitória orgulhosamente silenciosa. A paisagem transformava-se de campos de arroz ou milé(?) para bosques desafogados, de árvores altíssimas e muita frescura. Potanna surgiu a tempo de um merecido e compensador almoço, e Tolka, no fim do dia, parecia um prémio pelo esforço e coragem despejados em horas de caminhada e travessias de pontes à filme de aventuras. Um contratempo transformou um dos carregadores em guia nº 2 e acrescentou mais um membro à nossa equipa: o mítico super porter -“hundred kilos, no problem” era o seu lema.
No dia seguinte, o destino era Chomrong. Mais subidas intermináveis sobre degraus toscos e muito irregulares (benditos batons). Bandos de crianças das aldeias que cruzávamos pareciam troçar de nós. Muito bem compostos no seu uniforme escolar, ultrapassavam-nos aos saltos, desprovidos de qualquer equipamento trekker, alguns com os mais pequenitos ao colo, sem vacilar o mínimo! Grunf! Mas ok, a experiência é tudo. Uma coisa tentei interiorizar: mais me vale parar de lamentar - se miúdos com menos de 10 anos fazem isto com uma perna (e o irmão mais novo!) às costas!...

Em Chomrong fomos recebidos em grande, com direito a um espectáculo de danças e cantares locais. Como insistia em explicar o nosso mestre de cerimónias: “this is traditional gurung dance (...) “, e o resto do discurso ficava definitivamente lost in translation, se calhar devido a um excessozito de jumping tea, mas é melhor não entrar em detalhes.
Agora, era a vez da floresta húmida. As mudanças paisagísticas eram súbitas. Depois de determinada paragem, o cenário transformava-se abruptamente. Após Chomrong, acabaram os campos de cultivo e os bosques de estilo europeu. O ar tornava-se mais denso, o céu ficava escondido atrás das copas das árvores, o piso era agora extremamente escorregadio, feito de lama, recortado pelas raízes grossas das árvores. Com certeza que éramos observados por infinitas criaturas selvagens mas, de tão esquivas, não lhes pusemos a vista em cima. Algumas faziam-se ouvir, sobretudo as aves e os insectos e, tenho a certeza, alguns macacos. Definitivamente, não queriam nada com humanos. Restaram-nos alguns encontros indesejáveis com sanguessugas. A Paula ficou irremediavelmente marcada por um destes encontros.
De todas as paragens que fizemos, uma das mais fantásticas foi Dovan. Diante de uma vista aberta sobre o vale que atravessávamos, a Marisa decretou Dovan como o retiro ideal para quem necessite de uma pausa zen para se dedicar à leitura, à meditação, à tranquilidade, ao bem-estar espiritual, etc. No alto, o cume definidíssimo do Fish Tail inspirava uma calma de guardião silencioso. Para mim, tornava-se fácil perceber agora a sacralidade daquelas imponentes massas de rocha.

Entretanto, e voltando à viagem dentro de mim própria, ia-me apercebendo que estava cada vez mais esquecida dos meus receios iniciais. A naturalidade com que a gradual ausência de condições acontecia accionava a minha desconhecida capacidade de adaptação, de forma praticamente automática! E, quando falo de condições, refiro-me apenas à higiene. A alimentação nunca foi um problema, cada um descobrindo as suas preferências e mantendo-as, pois, em todos os locais, o cardápio permanecia inalterável. A Paulinha devorava chapatis com mel, o Zé pedia, invariavelmente, sopa de tomate a cada refeição, a Marisa reconfortava-se diariamente com o seu chazinho massala, o meu namorado descobriu uma deliciosa pizza de atum, o A e eu (bem, principalmente eu, usurpando a ideia do A) entretínhamo-nos tardes inteiras ao sabor de cerveja e Pringles (vá lá, outra vez, mais eu, é verdade). Isto, para não falar de delícias pontuais que íamos encontrando nalgumas paragens, a já mencionada pizza de atum de Macchapuchre B. C., os deliciosos “carossants” de chocolate e a divinal tarte de maçã de uma improvável pastelaria de Chomrong, a frescura crocante dos vegetais cultivados aos 4000 mts de altitude no A. B. C., as panquecas de chocolate em Himalaya, e o magnífico Dal Bat (“the nepali pizza”) que comemos pouco antes de regressar à civilização. Ah! Os horários madrugadores nunca fora um problema. Ainda por cima, posso dizer que, em montanha, nunca dormi uma noite de sono profundo! Só que o entusiasmo crescente pelas caminhadas e pelos diversos destinos impunha-se a qualquer preguiça fabricada! - o cansaço pode ser uma coisa muito “psicológica”.

Atravessada a floresta húmida, era a vez da paisagem de altitude, que se estendia para nos receber à chegada de Macchapuchre Base Camp. Vegetação rasteira, ribeiros de água glacial que acompanhavam permanentemente o trajecto, pedregulhos espalhados pelo solo, como cascalho de gigantes. A temperatura foi, para mim, a mudança mais difícil. Eu dou-me maravilhosamente bem com o sol e o calor, o frio é meu inimigo. Mas aprendi a enfrentá-lo. O truque, numa aventura destas, é simples, infalível e incontornável: basta mantermo-nos em movimento! Falei em gigantes. Voltando a eles, era à sua espera que estávamos todos ao chegar ao místico Anapurna B.C. Desilusão. Fomos recebidos por uma nuvem desmesurada, que tinha engolido todos esses gigantes que supostamente estariam aqui reunidos. As nuvens podem ser muitas coisas, fofas ou misteriosas, mas quentes não são! Estavam 2 graus negativos. Parecia não haver muitas opções para quem tinha um dia inteiro pela frente sem poder apreciar a paisagem circundante, aquela que, de resto, seria a razão principal pela qual nos demos ao trabalho (que agora encarava como prazer) da caminhada. Mas isso, só se for para as mentes menos criativas. O que se pode fazer a mais de 4000 mts de altitude, sob um frio de rachar e um nevoeiro quase opaco? Se fosse uma australiana aparentada de Miss Piggy, responderia: ficar à espera de ver quem chega e meter conversa para revelar o que há de mais cool acerca de mim - a minha nacionalidade! Se fosse um carregador nepalês, responderia: jogar voleibol! Se fosse um espanhol cheio de salero, responderia: fazer claque pela nossa equipa de carregadores, olé! E, se fosse um português na casa dos 30 e entusiasmado com o animadíssimo jogo decorrente, responderia: brincar às escondidas! Sim, ouviram bem, brincar às escondidas! Coisa que, nesta idade e a esta altitude, se pode transformar num passatempo a fervilhar de emoção e imaginação. Vale tudo, desde misturar-se com o público do voleibol, contar até 30 em 5 segundos, vestir um casaco alheio e assumir-se, assim, como “escondido”, correr como se não houvesse mais amanhã, até nem sequer tentar fazer o mais básico deste jogo, que é... esconder-se.

E pronto, sim, no dia seguinte a magia aconteceu. Levantámo-nos às 5:45 da manhã para ver, e vimos, claramente visto, finalmente, em todo o seu esplendor, imponente, majestoso, nítido e abrilhantado pelo fantástico espectáculo do nascer do sol, o fantástico e indescritível

SANTUÁRIO DOS ANAPURNAS!!
Querem saber como é? Eu disse indescritível.
Façam como eu: esqueçam todos os receios e vão até lá.

Até lá!
Susana Cunha